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Olá, sou Eduardo de Castro Gomes. Pretendo discutir aqui primordialmente questões sobre redação. Não se trata de um aprofundamento em gramática ou linguística, mas, sim de se abordar temas como a dificuldade e as motivações para escrever, como desenvolver temas, como expor as ideias por escrito, como finalizar um texto, tipos de texto, etc.
Também estão publicadas opiniões e experiências sobre educação, política, sociedade, fé.
Espero que apreciem e que sua visita seja proveitosa.
Obrigado.

3 de fev. de 2012

Professor: dispensável

Creio que fui dispensado de uma universidade particular, há uns seis anos, porque dei notas reais para meus alunos de Oficina de Redação.

Por misericórdia, dei nota 5 para eles, a mínima para passarem. Raríssimos, acho que só um, aliás, sabia escrever bem. Outro, muito bom na área dele, tecnológica, era péssimo na escrita. Perguntei-lhe se houve prova de redação no vestibular que havia feito.

- Sim, professor, eu fiz a lápis, e eu sei que 'tava' cheia de erro e passei.

Desconfio da minha despensa porque fui chamado para uma conversa com a coordenação do curso, na qual me perguntaram o que significavam aquelas notas. Falei a verdade: os alunos não sabiam escrever. Não havia como dar notas melhores. A conversa ficou nisso. Dias depois, vi em minha conta corrente uma quantia inesperada. Descobri que havia sido dispensado: era minha rescisão. Até que veio a calhar. Pagaram tudo direitinho.

Meses depois encontrei outro aluno. Ele me disse que o único professor com aula boa era eu, "e ainda mandam embora", lamentou.

Então, o problema não era eu, realmente. Vivia ouvindo de meus alunos que eu era um dos melhores professores lá. E eles eram inteligentes, na área deles. Não posso dizer que eram ignorantes. Eu, por exemplo, era mais ignorante na área da tecnologia do que eles, mas, na redação... Se eles não aprenderam a escrever em toda a vida escolar, que dura pelo menos onze anos, não iriam aprender tão rápido agora, em dois meses, com apenas 32 horas de aula.

Assim, descobri que o professor é o único profissional que, por se empenhar pela qualidade da sua produção, é totalmente dispensável para a empresa.

1 de fev. de 2012

O Gerúndio está sangrando

"Tudo o que você ouvir, esteja certa, ESTAREI VIVENDO"
(Gonzaguinha)


Não sou gramático, nem linguista (sem o trema fica esquisito), por isso a opinião aqui é puro comentário de quem pensa que sabe escrever. Não é uma apologia ao uso exagerado do gerúndio, é só uma observação.
Alguns professores e gramáticos, que respeito, não o suportam. Falam como se ele fosse uma praga. O consideram tão nocivo, que esquecem de mencionar: não usarás o gerúndio DEPOIS do verbo no infinitivo e, de preferência, usá-lo-ás apenas no presente. Pelo que eu sei, os mandamentos do gerúndio se resumem nesses dois. E pronto. Não acho motivo para condená-lo.
Sinceramente, não lembro de ter visto muita gente "estar falando" nem errando tanto assim. Nem o pessoal do Telemarketing. Agora, se o sujeito não sabe o verbo no infinitivo, aí sim, temos um problema, que não é culpa do gerúndio. É um caso do ensino e da aprendizagem, da educação que vem se arrastando no país. Igual ao termo "que", que repeti sete vezes até aqui, mas agora estou com preguiça de corrigir, além da pressa em publicar o texto. Mas o "que" fica pra depois. Vamos ao que me intriga: a aversão ao gerúndio.
Se ele existe, deve ter alguma função. Eu sei que ele pode ser substituído em algumas frases. "Hoje vamos aprender" é bem melhor que "hoje vamos estar aprendendo". A frase fica menor, entendível, o que pra mim é ótimo, pois, quanto mais direta, melhor. Mas, em alguns casos, não vejo um substituto. Considero um certo exagero se execrar tanto o gerúndio como alguns fazem.
Tomando liberdade de usá-lo, por exemplo, agora, digo que estão FAZENDO tempestade em copo d'água. Não é melhor do que "estão A FAZER tempestade em copo d'água"? A não ser que você seja português ou de um país que se fale o português de Portugal.
Acho estranho quando instalo algum programa no PC e o aviso diz: "A completar a instalação". Seria mais familiar se fosse "completando a instalação". Afinal, não é isso que está acontecendo (ou seria "está a acontecer"?) naquele momento: a instalação não está sendo completada? Ou a instalação estaria a completar?
Gerúndio é questão de tempo, lugar e ocasião. Em outras palavras, contexto. Exemplo: Eu estou escrevendo este texto agora (aliás, digitando). Se eu disser "eu escrevo este texto agora", pode sugerir que a partir deste momento quem vai escrever sou eu, em oposição a que outra pessoa escreva.
Vejam isso:
"Para sua segurança, este estabelecimento está sendo filmado".
Agora vamos tirar o gerúndio:
"Para sua segurança, este estabelecimento está... ãh... a ser film..., quer dizer... filmamos este estabelecimento". Ok, legal, mas, filmaram quando? Ontem? Eu nem vim aqui. Hoje de manhã? Agora?

E vejam isso:
"Para sua segurança, esta ligação está sendo gravada".
Vamos lá:
"Para sua segurança, esta ligação... ãh... eh... é gravada do começo ao fim".

Hum?

E o que seria de uma das músicas mais lindas da MPB, se não fosse o gerúndio? Tente cantar "Sangrando" de Gonzaguinha, sem o gerúndio! Vamos agora estar fazendo (eheheheh, brincadeirinha), uma experiência: cantar essa música transformando todos os gerúndios. Lá vai:

A sangrar
Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda
Que palavra por palavra eis aqui uma pessoa a se entregaaaaar
Coração na boca, peito aberto, vou a sangraaaar
São as lutas dessa nossa vida, que eu estou a cantaaarrr
Quando eu abrir a minha garganta, essa força tanta
Tudo o que você ouvir, esteja certa, estarei a viveeerrr
Veja o brilho dos meus olhos e o tremor nas minhas mãos
E o meu corpo tão suado, a transbordar toda a raça e emoção...

Então, vai estar indo para o trono ou não vai?

Contanto que não haja ofensas, podem me criticar à vontade. Numa dessas, alguém pode convencer. Se for eu o exagerado, ou se entendi errado, me corrijam, estou aqui para aprender. E aprender, dizem, "a gente aprende errando"... ou seria, "a errar"?