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Olá, sou Eduardo de Castro Gomes. Pretendo discutir aqui primordialmente questões sobre redação. Não se trata de um aprofundamento em gramática ou linguística, mas, sim de se abordar temas como a dificuldade e as motivações para escrever, como desenvolver temas, como expor as ideias por escrito, como finalizar um texto, tipos de texto, etc.
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21 de jun. de 2012

Onde EaD é realmente um desafio


Cheguei recentemente de uma das viagens mais desafiadoras que já fiz.

Este relato é um dos mais emocionantes da minha vida profissional. Com direito a tempestade amazônica.  Espero que gostem e conheçam como se faz Educação a Distância, onde "distância" é um substantivo bem experimentado. Mas, não vou falar nada de projetos educacionais, ações, técnicas, tecnologia aplicada à educação, nem inovações em Educação a Distância. Sinto muito se você veio aqui para saber sobre isso. Vou falar de sentimentos.

"Negósseguinte":
Fui escalado para compor uma banca examinadora de Trabalho de Conclusão de Curso em um município do Amazonas, chamado Maués. É uma cidade muito pequena, mas muito famosa no Estado por ser chamada "a terra do guaraná". Fica quase nos limites do Pará, distante de Manaus 268 km em linha reta e 356 km por via fluvial.

As praias são lindas, mas fui na época da enchente, quando as praias ficam totalmente sob as águas, o que de forma nenhuma tira a beleza da orla fluvial. Veja fotos das praias da cidade neste link: http://oeldoradoeaqui.blogspot.com.br/2010/08/maues.html

No entanto, Maués também sofre com a violência (há muitos casos de drogas na cidade), com a falta de infraestrutura melhor (pouquíssimos hotéis de boa categoria, para uma cidade turística), e com urbanização ainda muito, mas muuuito precária.


A ida foi rápida, para as "superlatividades" amazônicas: quatro horas de carro até Itacoatiara (aquela cidade do meu texto "Isso é passeio?") e, daí, mais quatro horas e meia em uma lancha chamada "expresso", bem mais veloz que os barcos que fazem os trajetos nas cidades do Amazonas. Um total de oito horas e meia viajando, aqui onde moro, é pouquíssimo tempo.

Mas o que quero destacar é o empenho de um aluno que, sendo de Maués, mas em tratamento quimioterápico em Manaus, fez um esforço hercúleo para estar lá, na prova presencial e na defesa do TCC. Quem não é do Amazonas não tem a "micromínima" noção do que é se deslocar entre as cidades por aqui, muito menos em uma situação daquelas.

A esposa dele, também componente da equipe de TCC, foi aos prantos com os elogios que receberam da banca examinadora, talvez por ver tanto esforço recompensado, em uma situação das piores possíveis. E olha que os elogios não foram pela situação que enfrentavam, nem tocamos no assunto. O trabalho deles estava bom mesmo. A banca recomendou a publicação.

Isso me fez meditar mais sobre as desculpas que damos quando não queremos ou achamos que não podemos fazer alguma coisa. Estou com uma gripinha agora que está querendo me desanimar. Acho que tenho que aprender muito com aquele moço. O olhar dele me causava alguma coisa, queria me dar uma lição.

Então, me reportei há uns quase vinte anos, quando fui a outro município, bem mais longe de Manaus, em literalmente do outro lado do Estado (sabiam que cabe o Nordeste inteirinho dentro do Amazonas?) chamado Benjamin Constant. Fui fazer cobertura jornalística de uma formatura da Universidade Federal do Amazonas e me pediram para fazer uma entrevista com uma moça que durante todo o curso, uns quatro anos, ia e voltava de Benjamin ao município onde morava, com sua filhinha de menos de um ano nos braços.

O que há de especial nisso? Ela ia e vinha de canoa, mais de sete horas de viagem todos os dias, com um bebê no colo, em rios perigosos, por necessidade de vencer na vida. Vou parar por aqui, se não, vou às lágrimas.

Voltando à minha aventura em Maués, também fiquei triste por ver que as cidades do interior são tão contrastantes com Manaus, a sexta economia do Brasil. Muita pobreza, poucos recursos, e os que existem, servindo a poucos donos de grandes empresas.

Depois de dois dias de trabalho intenso pelas madrugadas adentro lendo TCCs, fiz um pequeno passeio, dei uns mergulhos no rio e esperei a hora de voltar. Embarcamos e vimos Maués distanciar e desaparecer nas margens do rio Maués-Açu.

Eram 5 da tarde. Trinta minutos depois, o sol já escondido por trás das árvores, uma parte do céu fica azul, e outra parte completamente sombria. Uma gigantesca alaranjada nuvem (diria "terabaite" nuvem) de tempestade se formou. Era uma mistura de admiração e medo. Eu nunca tinha visto uma nuvem daquelas, parecia uma pintura gigante.

 O Céu a  bombordo

e aqui, o céu a estibordo

A tempestade caiu e tivemos que navegar bem devagar. Meu companheiro de banca, com um GPS, dava todas as coordenadas de nossa viagem. Felizmente, durou menos de uma hora quele aguaceiro.

A noite seguiu estrelada, mas muito escura, com várias luzes de casas dos ribeirinhos. Sinceramente, eu não sei o que faz uma pessoa construir uma casinha em um lugar daqueles, naquele meião de rio e floresta, onde para se ir ao vizinho tem de ser de canoa ou barco. O curioso eram os postes de luz que surgiam da água, levando o "Luz para todos". Aqui, acolá, há uma casinha dentro d'água com sua lâmpada acesa. Pelo menos, diminuía a sensação de solidão naquele breu.

Bom, a viagem foi tranquila, tanto que, quando cheguei em Manaus, já estava desacostumado com a correria da capital. Na próxima semana estarei em Florianópolis, em um evento de Educação a Distância. Tive um artigo aprovado para apresentar lá. O título do evento: “Desafios para o futuro da EaD”. O título do meu artigo: "Uma viagem onde EaD é realmente um desafio".

Depois desta viagem, acho que tenho conteúdo para falar. Mas, na realidade, me recolho na minha insignificância: percebi que quem deveria estar em Floripa, falando de desafios, não era eu, era aquele rapaz da quimioterapia.

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